Treino com medalha banaliza a medalha?

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Treino concluído e uma medalha ao final com fotinho e sorriso no rosto. Este é o novo cenário dos corredores de rua que, no período pré-pandemia, queriam continuar ganhando medalhas e não tinham como. 

Alguns amam a ideia porque dá oportunidade de ter medalhas com custo menor, já que não envolve a estrutura do evento. Outros são contra porque acreditam banalizar a medalha de corrida. E você?

Treino com medalha não é novidade

Treino com medalha não é coisa nova. Grupos, assessorias e amigos realizam há décadas treinos temáticos e, ao final, premiavam seus atletas com medalhas. Contudo, com a pandemia da covid-19, isso se tornou comum porque não havia eventos. É a famosa “oferta e demanda”, princípio básico do capitalismo.. 

A proposta dos treinos com medalha é premiar os presentes com uma lembrança daquele momento e a conclusão do trajeto percorrido. Não seria a mesma coisa que a medalha de evento? Sim, em sua essência é isso mesmo. 

Contudo, tivemos mudança na visão do objeto de metal com cordão para pescoço.

O cenário mudou para todo mundo

Antes havia um hiato entre uma medalha e outra na parede. Isso gerava um pouco mais de expectativa entre os atletas de ganharem seu brinde por conclusão de percurso. Ele treinava e almejava a sua medalha, focando em uma preparação para uma prova em específico.

Eis que surgiu a pandemia da covid-19 e o cenário mudou. Antes os fabricantes não produziam 50 medalhas, por exemplo, e isso inviabilizava aos grupos de corrida comprarem. Com o lockdown as fábricas de medalhas e troféus perderam as organizadoras de evento como clientes e precisavam pagar as contas também. Eis que começaram a produzir quantidade menores. 

Os grupos aproveitaram a proposta e lançaram seus treinos. Motivaram os corredores, agregando felicidade em dias sombrios e incertos quanto ao futuro da humanidade sem vacina. E logicamente que investidores independentes viram nisso uma oportunidade e criaram treino virtual com medalha. E aí surgiu uma quantidade de desafios e treinos impossível de enumerar porque são muitos em várias cidades.

Hoje é fato: todos podem ter uma medalha de corrida sem nunca terem participado de um evento. 

É a banalização da medalha de corrida?

Este novo movimento de “compra e venda de medalhas” vem gerando críticas. Alguns acreditam que as pessoas agora só querem a medalha e deixaram de lado a preparação para o evento. Perderam o foco. 

Esta é uma opinião forte entre muitos corredores. A medalha de corrida de rua, em sua essência, vem a ser a premiação de conclusão de um objetivo. Se ela representa a sua melhor marca, seu melhor desempenho ou sua participação, vai de cada um. 

Ela era restrita aos eventos e apenas concluintes de todo o trajeto no tempo proposto de prova. Contudo, seu uso foi ampliado. Tornou-se um suvenir tão simples quanto um chaveiro e ao alcance de todos. São mudanças as quais podem perdurar ou não. O tempo é quem vai dizer. 

Se você parar para pensar, vários outros acessórios mudaram também. As camisas de poliamida, por exemplo, eram só de eventos e os grupos de corrida hoje vendem para seus membros e quem quiser usar. O mesmo vale para viseiras, por exemplo. Claro, não é a mesma coisa, mas já embasa a proposta que “as coisas mudam”

Uma medalha nunca tira o brilho de outra

Em alguns momentos temos 20 desafios virtuais ao mesmo tempo. Em muitos casos o corredor compra mesmo a medalha e às vezes nem corre. Assim como compra o kit de um evento e não vai, pedindo a um amigo para buscar a medalha. Isso tira o brilho da premiação mais famosa e clássica do mundo ou deixa o evento sem glamour? Não. Esta que vos escreve não pensa assim. 

Sabe por que? Porque cada medalha conta uma história. Enquanto escrevo este texto comemoro 5 km seguidos (sem pausa), o que não fazia desde os primeiros 6 meses de pandemia, quando perdi a motivação porque um medo real de não voltar a correr ou nem se quer estar vivo na próxima semana. E premiei-me com uma medalha virtual e estou feliz pra caramba. Não tirou o meu desejo de largar junto com meus amigos ouvindo o “3, 2, 1” de professor Roosevelt na Cicorre ou superar um percurso desafiador de um evento de corrida. Mas ela me preencheu bastante hoje de estar ali esperando para ser concluída. 

Cada medalha conta uma história e cabe ao atleta banalizá-la ou não. Quantos não foram ao evento e estão com o kit em casa? E quantos cortam o percurso mas posam com a medalha com o mesmo fervor de quem completou todo o trajeto do evento? São exemplos simples (e comuns) que explicam o simples: quem agrega valor a uma medalha é você. 

Uma medalha olímpica é a coroação de uma superação, uma história de vida para subir naquele pódio. Assim como o seu treino será se você estiver buscando isso. A lembrança, a história, a piada ou a lágrima agregada a uma medalha vem de um treino, de um evento ou de uma olimpíada com igual importância se assim você quiser.

4 COMENTÁRIOS

  1. Boa noite, Lidiane. Gostei muito do seu artigo. Gostaria de acrescenar uma coisa sobre as corridas virtuais, que viraram – pelo menos aqui em São Paulo – um verdadeiro.”negócio”. Há muitas corridas que são lançadas, e o site da empresa que as vende – e que não é a mesma que organiza – disponibiliza um link para o registro das distâncias e links de aplicativos de gps para averiguação da efetiva realização da distância pelo corredor. Até aí, tudo certo. O problema é que a prova não é concluída. Não é publicado o resultado, não há lista de classificação e ninguém responde emails. As medalhas e a camiseta são entregues, mas perde-se o brilho, e a confiança nos organizadores.

    • O movimento cresceu muito e me espantou em alguns estados. Vi que um estande estava vendendo medalhas extras de um evento virtual na São Silvestre.

      Sei que a ideia é “pagar” o treino depois, mas fica com aquela aparência de barraca de medalhas.

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